sexta-feira, 11 de julho de 2008

CERIMONIALISTAS




Eles são (quase) tão importantes quanto os noivos
Quem são os cerimonialistas que organizam os mais badalados casamentos do Rio
Sofia Cerqueira e Debora Ghivelder
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As dicas dos cerimonialistasSim. A palavra curta, simples e tão esperada é o ápice de qualquer casamento. Para que os noivos cheguem a ela, entretanto, uma longa jornada recheada de "sins" e "nãos" terá se iniciado, freqüentemente, um ano antes, em um encontro comercial. E só terminará muitas horas depois, quando o último convidado deixar a recepção. Atento a todos os passos, um especialista se responsabiliza pelo sucesso da cerimônia. Desde a escolha da igreja, entrega dos convites, decoração do salão, segurança dos convidados, bufê, música até a limpeza dos banheiros. É o cerimonialista, um tipo de profissional cada vez mais requisitado por quem deseja se casar em grande estilo. "Nossa função é interpretar os desejos dos noivos, reunir todos os serviços e cuidar para que tudo dê certo", resume Roberto Cohen, o mais procurado cerimonialista da cidade e que faz em média oito casamentos por mês. "A gente lida com a ansiedade de várias pessoas. É uma adrenalina muito grande. Você não pode falhar, a festa não tem conserto no dia seguinte", acrescenta o cerimonialista Ricardo Stambowsky, um dos preferidos da alta sociedade carioca. Para viabilizar as vontades dos noivos, essa seleta turma cobra entre 4 000 e 12 000 reais pelo serviço. É só o começo. Uma grande boda, com direito a igreja ornamentada, fundo musical, recepção em lugar badalado, serviço de primeira, DJ e banda ao vivo, ultrapassa a casa dos 100 000 reais e pode beirar os 200 000 facilmente. "O casamento mais caro não é necessariamente o melhor. O importante é aliar os serviços aos sonhos dos noivos", completa a pioneira no mercado, Helena de Brito e Cunha, quarenta anos de experiência.
São justamente os anos de prática que fazem com que esses profissionais jamais saiam para um evento sem levar a mala de trabalho. Nela carregam martelo, prego e superbonder para saltos quebrados, linha e agulha para frágeis alças de vestidos, uma bela caneta na falta de uma na hora de assinar a certidão, sachê de sal para pressão baixa, band-aid, analgésicos, antiácidos e até remédios para o coração. A atividade envolve enorme expectativa, boas doses de tensão e, não raro, grandes imprevistos. Roberto Cohen já teve de providenciar o resgate de um noivo e de sua mãe de um elevador que despencara momentos antes de começar a cerimônia. "Foi um sufoco! Tive de mandar a noiva voltar e, ao mesmo tempo, achar alguém para tirá-los dali. Deu tudo certo", conta ele, com vinte anos de estrada. Cohen, que era dentista, como a maior parte dos cerimonialistas começou no ofício meio por acaso. Socorreu uma amiga enlouquecida com os preparativos de seu casamento. Nunca havia feito isso. Hoje tem uma extensa lista de clientes, que vão de celebridades, como a modelo Georgia Wortmann e o jogador de vôlei Tande, a filhas de grandes empresários e gente de famílias como Matarazzo, Geyer e Galotti. Sobrenomes de peso também são o forte da agenda de Ricardo Stambowsky, advogado por formação, que descobriu o talento para eventos ao aceitar o desafio de um amigo de fazer o casamento da filha de um político, para 2 500 convidados, em 1985. Até hoje é a maior festa realizada por ele, que se orgulha de ter ajudado a unir filhas do advogado Sérgio Fadel, netos de Roberto Marinho, membros da família Natan Kimelblat e famosos, como Regina Casé e Estevão Ciavatta. "Na organização de um casamento, você acaba virando analista", diz. Em algumas ocasiões, até médico. Certa vez, um senhor caiu duro na primeira fila da igreja, supostamente morto. Stambowsky fez com que os seguranças tirassem o homem da igreja pelos braços, como se o estivessem amparando, e providenciou socorro. Era só uma queda de pressão, e o casamento foi salvo.
Jogo de cintura é fundamental. Mas algumas regras também fazem parte do cotidiano de um cerimonialista. O trabalho com os noivos começa um ano antes da data escolhida, com sucessivas reuniões para escolher os serviços. No dia da troca de alianças, o profissional acompanha a montagem da igreja e do local da recepção e segue, madrugada adentro, supervisionando tudo. É em média uma jornada de mais de doze horas, andando de lá para cá. "Sempre oriento toda a minha equipe. Ninguém deve se sentar ou comer no salão. Beber, jamais", destaca Thaïs de Carvalho Dias, que, depois de trabalhar dois anos com Helena de Brito e Cunha, montou sua empresa, há dezoito anos. Atualmente, ela faz uma média de seis eventos por mês. Thaïs se casou cedo, era dona-de-casa, mas sempre adorou festas. "Ainda choro em casamentos. A gente se apega às noivas", conta ela, que se permite quebrar apenas esse protocolo. As regras não valem só para os organizadores. A cerimonialista Amarilis Vianna, que atua na área desde os anos 70, estende os cuidados aos noivos. Tem uma lista de conselhos que sempre repete: "Digo que não deixem de comer, que não esqueçam a caneta e que gastem a sola do sapato para não escorregar". Thaïs chega ao extremo de designar uma das recepcionistas para a função de "babá de noivos". Ela lembra que eles costumam ficar de barriga vazia e bebericar nos copos dos convidados. "Para não se embebedarem, oriento a funcionária a dar o tempo todo água, refrigerantes e comida", diz. Mesmo com todos os cuidados, alguma coisa pode fugir ao controle. Amarilis já teve de tirar do próprio dedo a aliança e pegar outra com um dos padrinhos para substituir as esquecidas pelo noivo.
Se existem regras, também é quase uma convenção entre os cerimonialistas se vestir de preto ou azul-marinho. "O profissional não tem de competir com os convidados", decreta Helena de Brito e Cunha, que estudou relações públicas em Bruxelas, fez assessoria de cerimonial no Ministério da Fazenda na década de 60 e tem uma bagagem de mais de 500 eventos, como banquetes, festas de 15 anos e incontáveis casamentos. Na clientela, políticos, empresários e sobrenomes como Monteiro de Carvalho, Magalhães Pinto, Haegler, Galvêas e Peixoto de Castro. Ela começou numa época em que não havia casas de festas, as mães organizavam o casamento das filhas e pouca gente era familiarizada com a sigla francesa RSVP (em português, responda, por favor). Ela criou rituais adotados por todos, como a apoteótica entrada dos noivos no salão depois de os convidados estarem acomodados, e lançou vários profissionais, de floristas a decoradores. Mas nem tudo são flores nesse campo. "Já tive gente que trabalhou comigo e foi embora levando a minha lista de fornecedores e clientes agendados naquele ano", dispara ela, que hoje organiza apenas um matrimônio por mês.
Não importa o número. Cuidar de uma cerimônia dessas é um trabalho insano. Uma única festa envolve mais de 150 profissionais e uma lista de serviços em torno de 35 itens. Entre eles, reserva da igreja, aluguel do carro, contratação do fotógrafo e pagamento ao Ecad pelos direitos autorais das músicas tocadas na festa. Sem falar na compra de brindes, como maracas, pisca-piscas e marabus, hoje uma febre nas pistas de dança. Também virou mania animar a festa com bateria de escola de samba. Existem outras dificuldades. "Todo mundo quer se casar no sábado", diz Cohen. Há sempre as igrejas mais concorridas e os salões da moda. "Maio deixou de ser o mês preferido. E ninguém quer se casar nos meses de verão", comenta Amarilis. As exceções são os noivos estrangeiros, que juntam casamento e férias por aqui Embora a cidade registre a cada ano enlaces suntuosos, como os das filhas de Sérgio Fadel, que tiveram 1 500 convidados e envolveram a construção de pavilhões especiais no Forte de Copacabana, em 2001, e na Marina da Glória, em 2002, para abrigá-los, a média é de 300 a 500 convidados. E o curioso é que às vezes o noivo (ou a noiva) é mais fiel ao cerimonialista do que ao parceiro. "Já fiz três casamentos para uma mesma noiva. Ela brinca que muda de marido, mas nunca de cerimonialista", diverte-se Stambowsky. Como se vê, o que não falta é gente querendo dizer sim.
MAISON ESMELL (21)2511-2348/(21)2529-8774

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